Os piratas somalis são os maiores empregadores na região: uma sociedade quase perfeitamente organizada, refere a publicação alemã "P.M. Magazin“ na edição deste mês.
A costa da Somália detém, desde há alguns anos, a nada abonatória fama de ser banhada pelas águas mais perigosas do mundo. Aqui qualquer embarcação de pesca é quase invariavelmente desviada da sua vocação original e utilizada pelos piratas somalis para sequestrar navios mercantes, e extorquir resgates. O maior resgate costuma ser obtido de navios pertencentes a países europeus ocidentais. E nestes os alemães são quase como ganhar na lotaria. Já americanos e franceses podem ser um verdadeiro quebra cabeças para os fora-da-lei, pois as operações de socorro por parte das forças especiais destes dois países não costumam olhar a meios para atingir os fins. Os russos também não são propriamente uma pêra doce: ainda está bem viva a ação de um comandante que resolveu abandonar os 10 piratas capturados à sua sorte, a mais de 300 milhas da costa, num dos próprios botes (os restantes dois foram afundados), sem motor ou mantimentos a bordo. E que provavelmente sucumbiram no mar.
Sede dos piratas somalis, a cidade portuária de Harardhere é o centro de um negócio organizado quase na perfeição. Cada ataque conta, alegadamente, com um investimento base de cerca de 500 000 dólares.
Os navios sequestrados ao largo da costa somali, geralmente à vista de Harardhere, Hobyo ou povoações vizinhas, lançam âncora por vários dias, se não semanas ou meses. Tanto tempo quanto o necessário para chegar o resgate. Entretanto, até cem piratas estão envolvidos em cada operação, revezando-se por turnos na vigilância aos reféns.
Os piratas são os maiores empregadores da região, e com eles volta a haver um pouco de prosperidade na Somália, um dos países mais pobres do mundo. Atrás das paredes de barro das casas típicas desta região, esconde-se a infra-estrutura de uma indústria em franca expansão: a caixa de contagem de dinheiro do resgate, os contactos e os meios para a compra de armas, desde pistolas a metralhadoras e lançadores de granadas de foguete, oficinas de equipamentos eletrónicos, cozinhas de catering para cuidar das necessidades de alimentação dos reféns a bordo do navio sequestrado, enfim, toda a logística associada a uma atividade longe de estar erradicada, apesar dos esforços da quase totalidade das nações que detêm frotas de transporte marítimo.